Thursday 2 October 2008

Para desmentir o Mário Zambujal



Outra vez daqui
"Ainda estou a acostumar-me á ideia de estar sozinha. Não é que seja impossível. Incrivelmente, o mundo não acabou, como eu tinha previsto. Não se ouviu nenhum “BOOM”, não caiu nenhum meteoro, e o reino dos céus não desceu á terra. Que chunga. Teria sido muito mais dramaticó–romântico.
BOOOOM. "Tás a ver o que fizeste? Foste embora e agora o mundo acabou, tás contente? Erradicaste a existência para todo o sempre. Mataste toda a espécie humana. Animais fofinhos. Bebés. Flores. O Ikea. Isso, sente-te culpado, agora…”

Mas não. Foi incrível. Acordei e estava tudo na mesma. Sai á rua e as pessoas andavam e falavam e sorriam, como se eu e tu não tivéssemos decidido separar-nos para sempre. E liam jornais, e tomavam cafés, e iam trabalhar. Como se. Já não há respeito.

E eu fiz como elas e andei e falei e sorri. E li o jornal e tomei café mas não fui trabalhar. Quis distrair-me e fui passear. Mas fosse onde fosse, deprimia-me. Como Deus e a bosta de cão, tu estavas em todo o lado.

O girassol murchou. Aquele que tinhas roubado especialmente para mim porque eu uma vez disse que gostava de girassóis embora preferisse castanheiros. Foi a última coisa que me trouxeste e agora estava morta. Ás vezes parece que és estúpido. Devias ter roubado um castanheiro.

Fui até á nossa praia e deprimi-me porque sempre que íamos ali eu fazia o calçadão todo aos saltinhos e agora tu já não vias e não podias chamar-me criançola. Fui jantar ao restaurante onde íamos sempre e deprimi-me porque já não te podia chamar paizinho e fingir que éramos pai e filha.

Vi os Simpsons e deprimi-me porque deu intervalo e eu não podia saltar para cima de ti e dizer “temos três minutos para foder, dale!”. Fui perseguida por uma abelha e ninguém ouviu os meus guinchos.

Deprimi-me pelo facto de tudo me deprimir e dei um pontapé no cacto. Tropecei e aleijei-me e tu não viste e não me disseste que era bem feito. Amuei.

Fraquejei um bocadinho, apesar de a ideia de nos separarmos para todo o sempre ter sido minha, e telefonei-te. Continuavas fodido comigo.

Chamei-te nomes e fui dormir. Sonhei que te sodomizava.
Foi tão bonito."

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